O cliente espera que o serviço do provedor ocorra sem interrupções. Por exemplo, uma empresa que utilize um serviço de Internet no horário entre 8h e 20h, não pode ter seu sistema fora do ar durante este período de tempo. Já uma empresa que utilize a Internet 24h por dia, obviamente, apresenta uma necessidade contínua, de forma que qualquer tipo de parada é prejudicial ao seu negócio. Então, a operação de um ISP deve considerar a rede operando na categoria 24 x 7, ou seja, 24 horas por dia, 7 dias por semana, de preferência, sem interrupções.
Assim, é importante considerar dois aspectos: o tempo de disponibilidade (ou uptime) da rede e o tempo de indisponibilidade (ou downtime), onde a rede, por algum motivo, encontra-se inoperante. O período de uptime equivale ao intervalo de tempo entre uma falha resolvida anteriormente (o fechamento de um chamado anterior) e o início do chamado correspondente à próxima falha. Já o período de downtime se inicia com a abertura do chamado de reparo do cliente (trouble-ticket), que marca o reconhecimento da indisponibilidade do serviço pelo provedor, e termina com o reparo realizado e o fechamento do chamado após o reconhecimento pelo cliente, conforme mostra a Figura 1.
Figura 1 – Delimitação do Uptime e Downtime
A disponibilidade de uma rede pode ser enquadrada normalmente em três classes, de acordo com faixas de valores percentuais: Disponibilidade Básica, Disponibilidade Contínua e Alta Disponibilidade:
• Disponibilidade Básica – encontrada em redes desprovidas de mecanismos voltados para redundância ou contingência. As redes desta classe apresentam disponibilidade de 99,0% a 99,9%. Isto equivale a dizer que em 1 ano de operação a rede pode ficar indisponível de 8,76 horas a 3,65 dias. Convém ressaltar que nessa classe os tempos de indisponibilidade não levam em consideração parada planejada para troca de equipamentos, por exemplo. Aqui está enquadrada boa parte dos ISP’s;
• Alta Disponibilidade – rede insensível a falhas de software, de hardware e de energia elétrica. Nas redes desse tipo os sistemas possuem mecanismos de monitoração, detecção e recuperação de falhas. Nesta classe encontram-se as redes que apresentam valores de disponibilidade tipicamente na ordem de 99,99% a 99,9999%. Aqui se encaixam os ambientes das operadoras de telecomunicações;
• Disponibilidade Contínua – redes que possuem redundância de recursos, ou seja, se um dispositivo crítico deixa de funcionar, um segundo assume imediatamente a sua função. A disponibilidade neste caso apresenta valores de aproximadamente 99,99999%, ou seja, a rede funciona, no mínimo, por aproximadamente 8759 horas (de 8760) por ano, sem interrupções. Nesta categoria estão enquadrados os Datacenters, por exemplo.
A Tabela 1 apresenta as três classes de disponibilidade e relaciona os valores de disponibilidade anual, indisponibilidade anual e indisponibilidade mensal.
Tabela 1 – Valores da disponibilidade anual em função da indisponibilidade anual e mensal.
A confiabilidade da rede é tanto melhor quanto maior for o tempo de operação livre de falhas, também conhecido como tempo médio entre falhas – MTBF (Mean Time Between Failures), assim como quanto menor for o tempo de paralisação decorrente de falhas, definido como tempo médio para reparo – MTTR (Mean Time To Repair).
O MTBF é designado para expressar o tempo médio entre interrupções de serviço (tempo entre falhas). Já o MTTR se refere ao tempo transcorrido para o reparo de um serviço (tempo para reparo), conforme a Figura 2.
Figura 2 – MTBF e MTTR
Os valores de disponibilidade (A) da rede podem ser obtidos de maneira simplificada a partir da fórmula:
A = MTBF / (MTBF + MTTR) x 100
Exemplificando: Qual a classe de disponibilidade de um provedor que apresente um tempo de indisponibilidade mensal de 60 minutos?
• 1 mês (30 dias) = 30 x 24h = 720h x 60m = 43200m
A = 43200 / (43200 + 60) x 100 = 99,86%
Este provedor está na classe de disponibilidade básica, aparentemente sem maiores recursos de redundância em sua rede.
Conclusão
Uma rede de comunicação é avaliada por sua disponibilidade, exige conhecimento técnico, manutenção permanente, atendimento a requisitos de disponibilidade e segurança, o que demanda investimentos financeiros e em pessoal. O planejamento das redes de comunicação é estratégico para o provedor considerando que o faturamento e o relacionamento com seus clientes e fornecedores dependem disso.
Prejuízos financeiros oriundos da indisponibilidade da rede podem não ser os únicos efeitos colaterais. Mais do que a perda financeira, a imagem do ISP é prejudicada por conta da instabilidade ou indisponibilidade da sua rede. Portanto, acompanhar o desempenho da infraestrutura própria e de terceiros é essencial ao sucesso do negócio.
José Mauricio dos Santos Pinheiro
Consultor Técnico