Para que uma rede óptica seja eficaz e atenda às necessidades dos usuários, ela deve ser construída de acordo com as normas técnicas vigentes e segundo uma série sistemática de etapas planejadas independentemente do tamanho e do seu grau de complexidade. O projeto deve seguir um processo sistemático, que tem seu foco na aplicação, nas metas técnicas e no modelo de negócio da empresa. Seguir uma metodologia ajudará a desenvolver uma visão lógica da rede antes de desenvolver ações físicas. A ênfase será o planejamento antes da execução.
O objetivo básico de uma rede de comunicação sempre será garantir que todos os recursos sejam compartilhados rapidamente, com segurança e de forma confiável. Para tanto, a rede deve possuir regras básicas e mecanismos capazes de garantir o transporte eficiente e seguro das informações entre os seus elementos constituintes. Dentre os possíveis serviços ofertados numa rede óptica destacam-se: dados, telefonia IP, telefonia convencional, TV por assinatura, circuito fechado de TV, sistemas de automação e controle etc.
O planejamento de uma rede requer conhecimentos, habilidades e técnicas que possibilitem alcançar ou exceder as necessidades e as expectativas da própria rede que se quer estruturar. Entretanto, a necessidade de planejamento é algo que a maioria dos profissionais da área comenta, entende do que se trata, discursa e discute a respeito até com certa propriedade, muitas vezes buscando demonstrar um profundo conhecimento. No entanto, são poucos aqueles que realmente planejam ou executam seus planos e atividades, ou seja, os que organizam seus passos utilizando metodologia, pesquisa e bom senso no planejamento.
É claro que ter tudo sobre controle, tudo organizado o tempo todo é uma utopia. Há toda uma miríade de problemas diários, cumprimento de prazos, ações que dependem de terceiros e outros fatores que afetam qualquer planejamento. Mas, independentemente desses fatores, planejar nunca deixou de ser tão importante ou vital na maioria das questões relativas ao projeto de redes de comunicação. Planejar é vital, tudo o que é feito sem o mínimo de planejamento tem uma pequena chance de dar certo e uma grande chance de dar muito errado ou, no mínimo, apresentar inúmeros resultados inesperados.
Por outro lado, a pesquisa também faz parte da atividade de planejamento e, geralmente, é onde começa a elaboração de qualquer projeto. Planejar uma rede de comunicação requer um estudo minucioso das condições do local, da infraestrutura existente, equipamentos, levantamento do perfil dos usuários e das aplicações que serão usadas, dentre outros. Esta pesquisa é o que conhecemos por “site survey”. Projetos bem estruturados garantem o retorno esperado, dentro do tempo e orçamento determinados.
Respostas a perguntas simples podem ser o divisor de águas entre o bom e o mau planejamento de um projeto:
- Quais os motivos para a implantação do projeto?
- Qual o limite do orçamento para este investimento?
- Os envolvidos detêm o conhecimento necessário para realizar o projeto?
- Há recursos materiais e humanos disponíveis?
- Todas as etapas necessárias à execução do projeto são bem conhecidas e dominadas por todos os envolvidos?
- Quanto tempo para executar todas as atividades? Esse tempo é coerente?
Questionamentos como estes são sempre necessários. O problema é que há uma tendência a limitar o tempo de planejamento e conhecer pouco sobre as atividades envolvidas. Toda atividade de pesquisa ajuda a selecionar fontes de informação confiáveis, ajudando na obtenção de resultados positivos. Uma regra básica: o profissional que deseja planejar deve aprender a pesquisar.
Trocando em miúdos, um projeto depende do que se precisa versus o que se quer e quanto custa, ou seja, a relação equilibrada entre recursos, benefícios e custos. Muitas vezes a razão para um retorno negativo se deve a uma falha no planejamento, no momento de se fazer três estimativas importantes: o custo para a implantação, os benefícios a serem alcançados e os recursos disponíveis. Para que um projeto seja viável, ele deve prover benefícios que excedam os custos e não deve vincular custos que excedam os recursos disponíveis.
Um projeto otimizado é aquele que minimiza os custos e maximiza o lucro. Neste prisma, os elementos considerados para a análise quantitativa incluem:
- Investimento inicial – representado pelo custo dos componentes da rede de alimentação e rede de distribuição, que possibilitam a conexão dos usuários e a geração de receita;
- Custo de conexão do usuário – é o custo para conectar o usuário final no momento que este solicita o serviço;
- Custo total do projeto – inclui o investimento total nos materiais e na mão-de-obra para a construção da rede e conexão dos usuários finais;
- Proporção de investimento – para alinhar o custo à geração de receita, é conveniente retardar ao máximo a fase de conexão do usuário, minimizando o custo inicial do investimento. Neste caso, o objetivo é não acrescentar o custo significativamente maior de atividades futuras às atividades presentes;
- Tempo de implantação – uma instalação inicial mais rápida aumenta o potencial de conexão de usuários e a geração de receita. Entretanto, o provedor deve ser capaz de atender a demanda para não causar a insatisfação no usuário pela demora no atendimento, o que pode vir a prejudicar a receita esperada;
- Custos de financiamento – há uma taxa de retorno esperada pela entidade responsável pelo fornecimento de capital, seja ela interna ou externa. Usando-se um modelo de amortização do empréstimo é possível considerar o custo real na análise de decisões sobre o projeto;
- Fluxo de caixa – todos os custos de financiamento e demais decisões sobre o projeto terão influência sobre o fluxo de caixa, determinando quando se chega ao ponto de equilíbrio ou “break even”;
- Fatores externos – fatores que não estão sob o controle da equipe de projeto, mas que têm impacto direto sobre os custos de implantação e o fluxo de caixa, como o tamanho da área de cobertura e a taxa de adesão dos usuários.
O que deve prevalecer, de fato, é a ideia de que buscar informações, estudar e analisar é mais importante do que somente adquirir novíssimas tecnologias ou sofisticados sistemas. A melhor tecnologia ou o sistema mais eficiente nunca serão melhores do que o projeto elaborado para utilizar esses recursos e oferecer o melhor desempenho. De qualquer forma, um projeto só deve ser iniciado se houver pessoal e condições de terminá-lo, ou seja, se não há condições de se custear as diversas etapas, o projeto não deve ser aprovado ou iniciado. Da mesma forma, se não houver profissionais que possam executar o que foi planejado deve-se aguardar o momento mais oportuno para iniciar o empreendimento.
Na maioria das vezes existe uma tendência de examinar um projeto como um todo, com um custo e benefício únicos. Entretanto, cada etapa rende seus próprios benefícios, acarreta seus próprios custos e, na mesma medida, exige recursos próprios. Então, torna-se necessário analisar cada um dos aspectos (custos, benefícios e recursos) individualmente (Figura 1). Esse processo de itemização do projeto relaciona-se com quatro motivos principais: primeiro, para apoiar a decisão de como cada etapa deve ser realizada; segundo, para determinar como essas etapas deverão ser executadas; terceiro, para auxiliar na decisão do que antecipar, retardar e mesmo corrigir ou cancelar, de forma que o projeto ainda possa prosseguir mesmo com recursos menores; e quarto, para estimar os custos e benefícios totais obtidos com a execução do projeto.
Exemplo 1
A implantação de um tipo particular de topologia de rede para dar suporte a um dado conjunto de aplicações também não é uma tarefa muito simples. Cada arquitetura possui características que afetam sua adequação a uma aplicação em particular. Por exemplo, para atender a comunicação a grandes distâncias, um projeto pode incluir diferentes topologias e diferentes meios de transmissão para suportar as exigências de desempenho dos múltiplos sistemas.
É sempre bom ter em mente que a informação é uma moeda de grande valor na atualidade e deve ser adequadamente tratada. Conhecer, pesquisar, analisar e planejar é o pilar que permite a execução de um bom projeto de redes de comunicação e que deixam à vontade o profissional para conduzir, corrigir ou mesmo mudar os rumos do empreendimento. Neste momento, o planejamento pode evidenciar as situações em que o desejado e o realizado apresentam variações, permitindo identificar as atividades que saíram do caminho traçado originalmente e possibilitando ações que possam reconduzir o projeto ao rumo desejado.
José Mauricio Pinheiro
Profissional da área de tecnologia.