A Suécia tem um modelo de gestão dos serviços de telecomunicações bem-sucedido e organizado, que deveria servir de inspiração para o Brasil. Em março, representantes da Solintel, juntamente com empresários do setor, estiveram em Estocolmo, capital do país, para conhecer a infraestrutura e os serviços, que são administrados pela empresa STOKAB, da prefeitura local.
O modelo sueco é bem diferente do brasileiro. A gestão de telecomunicações é dividida em três principais áreas: regulatória, de serviços e de infraestrutura. A primeira delas é administrada exclusivamente pelo governo e as outras duas podem ser exploradas tanto por empresas públicas como privadas.
A STOKAB atende, com Fiber-to-the-Home (FTTH), 77% do território sueco e 92% de Estocolmo. Possui 90 colaboradores – muitos serviços e produtos são terceirizados – e 900 clientes, sendo 100 provedores regionais e 800 bancos e outras companhias de grande porte. O maior cliente é a própria prefeitura de Estocolmo.
O grande diferencial da política pública da Suécia é manter uma infraestrutura única de fibra óptica – ao contrário do Brasil, onde, muitas vezes, até sete companhias constroem infraestrutura própria em um único poste. A STOKAB aluga, por até 25 anos, a fibra apagada para as quatro grandes empresas privadas que exploram os serviços no país. Portanto, para conquistar assinantes, o foco da competição é a qualidade do atendimento e dos serviços prestados.
Rede subterrânea
A infraestrutura de rede é construída por meio de dutos subterrâneos – de 110 milímetros -, que recebem fibra óptica. Dentro dos dutos são colocados de 3 a 12 pequenos dutos, dependendo da região, e implantados até 640 fibras. A STOKAB, que não atende a última milha, trabalha com fibra óptica desde 1994 e com FTTH desde 2007. Atualmente, possui, em Estocolmo, três Pontos de Troca de Tráfego (PTTs).
Quem opera a rede é uma empresa terceirizada que, atualmente, é responsável por gerenciar 17 mil ativos e 3,5 mil pontos conectados somente da prefeitura de Estocolmo. Além da construção de infraestrutura de fibra óptica, outro serviço prestado pela STOKAB é a gestão de Tecnologia da Informação (TI) de empresas. A companhia pública sueca administra 48 mil equipamentos entre notebooks e periféricos.
Desenvolvimento
A STOKAB não visa lucro. O objetivo do investimento é fomentar a educação e proporcionar, com uma boa infraestrutura de telecomunicações, maior vantagem competitiva para as companhias do país. A contribuição para o desenvolvimento da cidade foi comprovada em pesquisa que revelou, por exemplo, que restaurantes passaram a vender 25% a mais depois de terem instalado rede Wi-Fi e com internet via fibra óptica, e os hospitais tiveram uma redução de custos de cerca de 50%.
Ao todo, 290 municípios são atendidos pela STOKAB e o serviço de telecomunicações em 170 deles funciona com uma única infraestrutura. Em algumas regiões do país, aonde a empresa pública não chega, companhias privadas constroem a infraestrutura. Porém, uma das maiores organizações do setor na Suécia, a Telia, comprovou em uma pesquisa que, quando utiliza a rede da STOKAB, tem como resultado mais qualidade nos serviços e maior participação no mercado.
Curiosidades
Em cada esquina de Estocolmo existem Access Points (APs). Os equipamentos controlam a parada de ônibus e trens. A STOKAB aproveita esses pontos de presença para explorar publicidade.
Uma curiosidade interessante é que, na Suécia, a Netflix precisa pagar pelo uso da rede de terceiros, o que não ocorre no Brasil.
Impostos
As empresas privadas que exploram os serviços de telecomunicações pagam 22% sobre o lucro de Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e o usuário final paga o IVA, que representa 25% do valor do serviço prestado em telecomunicação.
Lição
A grande lição que fica do modelo sueco é a cultura do país com relação à exploração dos serviços de telecomunicações. Não há boicote no compartilhamento de infraestrutura subterrânea pelas operadoras, que focam o trabalho no bom atendimento, relacionamento com os clientes e qualidade dos serviços.
No Brasil, ao contrário, temos redes aéreas em postes e um emaranhado de cabos de mais de uma companhia investindo na mesma localidade para poder explorar o serviço.
Para aumentar o leque de serviços ofertados para a população, o Brasil precisa fomentar a realização de consórcios entre a iniciativa pública e privada para construir infraestrutura de qualidade.