Microsoft leva data center para o fundo do mar - ISPBLOG
Enviado em 17.08.2016

Microsoft leva data center para o fundo do mar

Matéria de Lucas Sillas, Publicada na Revista ISPmais – Edição 04.

À primeira vista parece loucura, afinal, dispositivos eletrônicos e água nunca formaram a melhor combinação, mas esta é a ideia do novo projeto da Microsoft.

“Quando ouvi isso pela primeira vez, eu pensei ‘Água… Eletricidade, por que você faria isso?”, comentou o designer de computador Ben Cutler, da Microsoft, um dos engenheiros envolvidos no projeto. “Mas, quando você pensa mais a respeito disso, realmente faz muito sentido”.

O Projeto Natick, como foi nomeado, consiste em construir um data center dentro de um tubo, e “jogá-lo” em meio as gélidas águas do oceano, evitando assim os enormes gastos com refrigeração que existem em data centers normais. Na prática o projeto trata-se de um conjunto de computadores selados em um container de aço ligado por fibra óptica, pressurizado e recheado com nitrogênio, além disso, o modelo de teste que recebeu o nome de Leona Philpot (personagem da franquia de games Halo) também contava com mais de 100 sensores, que captavam informações sobre pressão, umidade, temperatura, movimento, entre outros. Estes dados eram analisados diretamente pelo escritório da Microsoft.

Em seu blog oficial, a empresa falou sobre algumas das soluções que vem surgindo para viabilizar o projeto.

“Ir para debaixo d’água pode resolver vários problemas com a introdução de uma nova fonte de energia, reduzir consideravelmente os custos de refrigeração, reduzir a distância com as populações conectadas e tornar a instalação de centros de dados mais simples e mais rápida”.

Esta “nova fonte de energia” citada no blog da Microsoft trata-se da ideia de utilizar uma fonte de energia renovável para manter o funcionamento do data center. A empresa tem estudado a utilização de um sistema de turbinas, ou até mesmo um módulo que aproveita a energia das marés para manter o funcionamento dos equipamentos. Outra vantagem deste sistema seria a possibilidade de encurtar a distância entre os data centers e os grandes centros próximos ao oceano, reduzindo a latência e assim tornando a web mais rápida, o que é ainda mais importante em uma época em que se fala tanto de Internet das coisas.

Se o projeto realmente vingar, resultará em uma economia absurda, tanto com refrigeração e energia elétrica, como também na elaboração destes projetos. Imagine que hoje em dia são necessários quase 2 anos para a construção de um data center térreo, enquanto isso, a Microsoft garante que para a produção destas cápsulas subaquáticas em massa, seriam necessários apenas 90 dias, o que ofereceria uma imensa vantagem de custo.

Apesar do projeto ter sido divulgado apenas no início deste ano, a cápsula experimental foi lançada ao mar em agosto do ano passado, ficando 105 dias em funcionamento, 10 metros abaixo da superfície do oceano pacífico, próximo a Califórnia. O teste superou as expectativas dos engenheiros e pesquisadores. A estabilidade de funcionamento do sistema também foi um ponto muito positivo, já que não é o tipo de lugar onde se pode enviar um técnico no meio da madrugada no caso de algum problema acontecer.

Viabilidade x Sustentabilidade

Se por um lado o projeto tem se mostrado “tecnologicamente viável” e muito vantajoso, por outro existe a preocupação ecológica em relação ao impacto que isto causaria dentro do ambiente marinho. No primeiro teste, foram utilizados sensores acústicos para determinar quanto o barulho gerado dentro do tubo poderia ser ouvido do lado de fora. O resultado mostrou que a movimentação é quase imperceptível. Além disso, outra questão importante é a do aquecimento do tubo, que também poderia gerar consequências, porém, uma quantidade “extremamente pequena” de calor foi percebida na parte externa da cápsula, o que também agradou aos pesquisadores.

Ao que tudo indica, dentro de alguns anos o local onde nossos dados estarão armazenados vai mudar de endereço, e as nuvens vão parar no fundo do mar.

Mas espera aí…esta pode ser uma alternativa para a multimilionária Microsoft, mas será que no futuro essa tecnologia (ou algum tipo de adaptação dela) será uma opção viável para os provedores?

Isto só o tempo dirá, hoje parece difícil imaginar alguma adaptação que pareça viável aos provedores regionais, mas ao longo da história a tecnologia já nos surpreendeu diversas vezes, portanto, não custa ter fé.

Mas enquanto isso não acontece, que opções surgem para os provedores como alternativa para diminuir gastos com a refrigeração de data centers? Até o momento as principais alternativas para refrigeração são via aparelhos de ar condicionado – o que traz um grande gasto energético – e os sistemas de resfriamento que utilizam água, que apesar de representarem uma economia significativa em energia elétrica, trazem um gasto extra em água. Além do mais, nenhuma das duas opções pode ser considerada “ecologicamente correta”, aliás, nem chegam perto disso.

Recentemente a empresa Emerson Network Power, um negócio da Emerson (NYSE:EMR), líder global no fornecimento de infraestrutura crítica para sistemas de tecnologia da informação e da comunicação, divulgou os resultados de seu novo sistema de resfriamento de data center. Segundo eles foram economizados mais de 5,3 bilhões de litros de água nos últimos 36 meses na América do Norte, e a previsão é que em 2016 sejam economizados mais 3,7 bilhões de litros.

O promissor sistema que combina a economia de energia e água, sendo ecológica e financeiramente vantajoso, funciona utilizando refrigerante bombeado. Calma, não estamos falando de bombear Coca-Cola em um data center, mas sim de um sistema de ar condicionado de precisão que utiliza gás refrigerante bombeado Liebert DSE para resfriar ambientes de data centers. Este sistema utiliza de tecnologia Free Cooling Indireto, e seus controles avançados para sistemas de gerenciamento térmico otimizam a operação de cada componente para maximizar o tempo de free-cooling, minimizar o consumo de energia, fornecer diagnósticos e fazer a integração com os sistemas de gestão do data center.

Esta solução parece ser um pouco mais próxima da realidade, e segundo especialistas americanos, dentro de cinco anos será a opção número um em substituição aos sistemas de ar condicionado e água.

Opções tem surgido, o valor do investimento inicial e outros fatores ainda deixam estes sistemas um pouco distantes da realidade da maioria dos provedores brasileiros, mas o certo é que o futuro mira um caminho mais sustentável e econômico.

 

Lucas Sillas
Analista de Marketing da ISP Shop

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