Discutir sobre a participação das mulheres na era digital é assunto muito mais amplo do que se imagina. E aqui começam as dificuldades. Podemos pensar em um viés econômico-desenvolvimentista, apresentando fatos contundentes como a participação das mulheres em mais de 85% das compras on-line, ou mesmo o uso de mídias sociais quase seis vezes maior que entre os homens. Por outro lado, quando avaliamos o mercado de tecnologia, as mulheres ocupam menos de 20% das posições; já no segmento de telecomunicações, a participação feminina é de apenas 36%.1
Não é preciso muito para perceber a dicotomia dos dados acima apresentados. Um mercado que depende basicamente da participação feminina para crescer, haja vista os 85% de participação de mulheres nas compras on-line, continua sendo liderado por homens. O fato é que as discussões que envolvem gêneros estão longe de se limitarem à igualdade de direitos: quando decisões voltadas ao relacionamento com o público feminino não tem representatividade desse mesmo público, são grandes as chances de equívocos com perdas financeiras. Se de fato queremos discutir o “empoderamento feminino”, devemos nos ater às experiências específicas das mulheres e à própria condição particular de ser mulher, e no que tange ao gênero, desvendar as relações que se estabelecem entre o masculino e o feminino, além das relações de poder que se refletem nas estruturas sociais e organizacionais.
Nas últimas décadas, o Brasil passou por diversas transformações demográficas, culturais e sociais que contribuíram viabilizar o acesso das mulheres às novas oportunidades de trabalho: a queda da taxa de fecundidade; a redução no tamanho dos arranjos familiares; o envelhecimento da população com maior expectativa de vida para as mulheres; e a expansão da escolaridade e o ingresso nas universidades. Desta maneira, aos poucos vemos a dissolução das barreiras clássicas para o ingresso no mercado de trabalho.
E porque, então, as mulheres ainda enfrentam desigualdades de oportunidades e de salários?
A resposta a essa questão deve evoluir no sentido de redesenhar a forma de atuação das mulheres no contexto organizacional: pessoal, familiar e profissional. A garantia de oportunidades iguais é uma mudança cultural e social e não pode ser liderada apenas pelas mulheres. É necessário o engajamento das lideranças, sejam elas homens ou mulheres, a fim de tornar as culturas de suas empresas mais inclusivas. Precisamos superar a crença de que existe um único jeito de ser líder, de ser um profissional de alto desempenho, de desempenhar determinadas tarefas. Diversidade gera inovação.
É preciso entender que as diferenças biológicas nada têm a ver com hierarquias de poder entre gêneros. E isso não exclui uma discussão calcada nas diferenças entre o masculino e o feminino. Sim, somos diferentes. E é bom que assim o seja.
Além do tema das oportunidades de trabalho, existe um, em particular, que vale ser revisitado: o empoderamento feminino. Clama-se para que haja um deslocamento da discussão de “luta” para uma discussão de “organização diferenciada” e “autoconfiança nas diferenças”. É, sim, essencial que as mulheres aprimorem algumas posturas no mercado de trabalho. Mas isso de nada adiante se a postura dos demais atores do mercado profissional também não mudar em relação a elas.
Neste contexto, a dicotomia entre trabalho e família deve ser vista de forma positiva pelas mulheres, pelas lideranças e pelo empresariado, permitindo a construção da vida profissional da mulher de modo a obter realização pessoal, tendo a família como uma influência marcante e com quem compartilhar. Dessa forma, as atribuições no trabalho perdem o clássico “peso” e passam a ter uma nova significação, por meio da realização de uma vida familiar plena e rica de experiências.
Aqui chegamos ao ponto crucial da discussão: se queremos continuar galgando novas conquistas, devemos assumir uma nova postura na condução dos negócios. Dentro das empresas, é imperativa a revisão do conceito de feminilidade: não existe um único jeito de ser mulher. O verdadeiro empoderamento feminino passa, antes de tudo, pelo empoderamento das diferenças e pelo respeito à liberdade de escolha. Assim se estabelece a verdadeira inclusão.
Para alavancar negócios, precisamos de pessoas dispostas a desafiar suas crenças e de empresas dispostas a lidar com as diferenças. A harmonização das diferenças garante a continuidade das conquistas.
A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade…
Rui Barbosa
Na foto acima a composição da Câmara ABRINTMulher que é um movimento associativo empresarial, organizado por mulheres, com o objetivo de estimular as melhores práticas de gestão e fortalecer a participação das mulheres no setor de Telecomunicações.
Feliz dia das Mulheres!