Após mais de um ano de COVID-19, quais as lições e oportunidades que a história da Peste Bubônica traz para os provedores regionais?
No ano de 1348 o mundo enfrentou uma pandemia sem precedentes, conhecida como Peste Bubônica ou popularmente Peste Negra. Assim que veio a pandemia do Covid-19 a primeira coisa a se fazer é estudar história para aprender e se preparar melhor para os impactos e oportunidades que pandemias anteriores trouxeram. Existem semelhanças e também diferenças da relação entre as duas pandemias. É o que veremos a seguir neste artigo.
A Peste Negra atingiu 80% da população mundial, e levou aproximadamente 4 (quatro) anos para se espalhar ao redor do mundo. Isso porque a principal fonte de transmissão se deu através de navios, haja vista que o mundo não era globalizado como é hoje. Naquela ocasião pais e filhos não se visitavam, e na Europa e Oriente Médio 40% da população perderam suas vidas por conta da praga.
Houve uma devastação econômica, principalmente porque não havia gente suficiente para as colheitas. Para se ter uma ideia, 1 (uma) em cada 10 (dez) cidades da Inglaterra e da Itália desapareceram. Antes havia excesso de mão de obra, e durante e após exigência por melhores salários.
Apesar da resistência dos governos, o sistema feudal foi corroído. E nesta ocasião foi que surgiu a primeira lei dos trabalhadores, e exigência de melhores condições de salários. Grandes corporações a longo prazo aumentaram sua participação de mercado, além do grande estreitamento com os governos. Isso fortaleceu o poder do estado. Houve uma concentração de renda, e o dinheiro ficou dentro da família pois os trabalhadores não aceitavam mais trocas por lenhas por exemplo.
Com mais dinheiro surgem então os empresários mercantes, os italianos começaram a abrir as oficinas de seda e tecido. Investir em novas tecnologias, e compensar a falta de mão de obra com máquinas. Após a Peste Negra pouquíssimas empresas preservaram capital, habilidades e infraestrutura. Estas questões aceleraram a centralização, aumento de impostos e também se criou a dependência do governo pelas grandes empresas.
Na Inglaterra o declínio do valor da terra e consequente queda na renda, levaram a coroa a limitar salários a níveis anteriores e impor novos impostos com o Estatuto dos Trabalhadores de 1351. Anteriormente os impostos eram apenas para despesas extraordinárias como guerras por exemplo. E foi esta pandemia que abriu precedente para os governos intervirem na economia. Toques de recolher, proibição de viajar, quarentenas foram instituídas. E ao mesmo tempo famílias mercantes ganharam influência política com os governos com as compras de terras fruto da queda de preços.
Um exemplo muito notório na história foi a família Médici que passou a governar Florença. No entanto, foi nessa época que os Mercantes ou empresários começaram a ser vistos como suspeitos, sentimento ante comercial com raízes na peste negra. Sentimento este que até os dias atuais se permanece. Empresários não são bem-vistos pela população em geral. Qualquer semelhança com a pandemia da Covid-19 não é mera coincidência.
Então no início de março de 2020 estoura no mundo a pandemia do Coronavírus. Se espalhou pelo mundo em meses por conta da globalização. O impacto foi imediato e devastador para algumas atividades econômicas. Já para outras surgiram oportunidades. Pequenos restaurantes, lojas e pubs fecharam suas portas definitivamente. Ao mesmo tempo parte do mercado de alimentos, varejo em geral e o entretenimento se tornaram digitais. O dinheiro em espécie praticamente desapareceu.
Chega então o que podemos chamar de a era Amazon. A demanda dos restaurantes fechados foi absorvida por supermercados, que por sua vez, tem muitas áreas de vendas, muitos colaboradores e alta capacidade de contratar quando muitas pessoas perdem seus empregos. Possuem armazém, caminhões e uma capacidade logística complexa. A Amazon possui serviço de venda de alimentos nos Estados Unidos, Índia e em muitos países europeus.
As lojas de rua passaram a sofrer com a concorrência de preços e a conveniência da internet. Aumento exponencial de compras on line. Serviços como Netflix, Amazon Prime, Disney plus, You Tube, entre outros mantém o entretenimento das pessoas, enquanto aguardam seus pacotes chegarem nas suas casas. Google, Facebook e Twiter dominam o tráfego da internet no mundo. Serviços de empresas como Amazon Logistics, Just Eat, UPS e Deliveroo dispararam durante a pandemia do século XXI. Assim como Visa, Mastercard, Apple Pay, PayPal e Amazon Pay (mais uma vez) também. E para manter a produtividade trabalhando em casa, Skype, Zoom, Meet e Blue Jeans também cresceram substancialmente. Laptops por exemplo são fabricados por poucos grupos econômicos.
Em 2020 a riqueza de Jeff Bezos, fundador da Amazon cresceu aproximadamente 77 (setenta e sete) bilhões de dólares. O poder do estado assumido durante a pandemia. Monopólio do Governo disputado por grandes corporações mundiais. Em 2016, das 100 (cem) maiores economias mundias, 31 (trinta e um) eram países e 69 (sessenta e nove) eram empresas. O Walmart maior que a economia da Espanha, e a Toyota maior do que da Índia. Alta influência nos políticos e nos reguladores (empresas de petróleo, por exemplo, negam mudanças climáticas). Bem como uma aceleração das privatizações, 25% (vinte e cinco por cento) por exemplo do sistema de saúde do Reino unido é prestado por empresas privadas. Transportes, serviços públicos, telecomunicações, correios entre outros são administrados por empresas privadas.
Com a chegada do Covid-19 o Governo voltou como um tsunami e direcionou seus gastos para o sistema de saúde, voltou a tratar dos sem-teto, proporcionou renda básica para milhões de pessoas, garantia de empréstimos e prorrogação de parcelamento de impostos. Economia Keynesiana em larga escala. Títulos nacionais são usados para emprestar dinheiro respaldado por futuros contribuintes de impostos. A restrição a liberdade dos cidadãos. Teatros, bares e restaurantes fechados. Parques, bancos e cidadãos sujeitos a multas. Um rei medieval ficaria impressionado com o nível de autoritarismo dos nossos governantes. O poder do estado retorna nos níveis da Segunda Guerra Mundial.
Após pouco mais de um ano, se observa uma escassez muito grande dos profissionais de tecnologia. As empresas que estavam preparadas se reformaram rapidamente no mundo novo. Houve um redesenho na produção de energia, transporte e sistemas alimentares. Redução na emissão de carbono. Ao mesmo tempo surgem muitas oportunidades na área de telemedicina, galpões inteligentes, logística e tecnologia.
No início da pandemia o pânico tomou conta das pessoas e das empresas menores. Será que guardo meu dinheiro embaixo do colchão? Muitas pessoas venderam suas ações e realizaram prejuízos com a queda da Bolsa de Valores. E a inadimplência da minha empresa? Será que o tele trabalho vai funcionar? Os provedores regionais precisaram rapidamente redesenhar suas redes por conta da evasão dos trabalhadores das empresas para suas casas.
É fundamental compreender que há a necessidade de se tomar remédios distintos para negócios diferentes. Não se pode tomar o mesmo remédio para doenças diferentes. Experiência própria, com o tele trabalho a performance dos colaboradores cresceu pouco mais de 10% (dez por cento), isso porque já estávamos preparados, já éramos digitais. A gestão prevaleceu pelo exemplo, performance e valorização das pessoas.
Pessoas, pessoas e pessoas. Ao mesmo tempo gerou uma ansiedade muito grande. Quando vamos voltar? Qual o plano? A área de gente e gestão trabalhou incansavelmente para cuidar do psíquico e dar as melhores condições de trabalho.
O que faremos quando de fato voltar? Híbrido? Como tratamos PD&I (Projeto, desenvolvimento e Inovação)? Mantemos os investimentos? E os novos negócios? Congela ou acelera? Enfim. Muitas oportunidades surgiram e muitas outras estão por vir. Como você provedor regional estará quando a Covid-19 passar? Pense nisso!
Asshaias Felippe, diretor executivo da Solintel e Moga Telecom e sócio fundador do projeto TelCont.