Nos últimos anos, e especialmente após o surgimento do COVID, enquanto outros mercados ruíram, o setor de Telecomunicações teve destaque, eis que se mostrou cada vez mais indispensável em um país ainda carente de conectividade. Em razão disso, o número de investidores e fundos de investimento interessados no segmento de Telecom teve um crescimento exponencial, sendo este interesse comprovado através de diversos investimentos para expansão dos provedores ou a compra desses.
Mas o que buscam os investidores e consolidadores do setor?
Para que esta consolidação ocorra com sucesso e beneficie a todos do setor, um fator decisivo e de extrema importância é o preço das empresas. Atualmente muitos ISPs estão com uma visão distorcida quanto ao valor de suas operações, alguns muito acima da média de mercado sem possuírem justificativas coerentes para um preço tão elevado e outros com diferenciais incríveis e uma expectativa abaixo do valor de mercado, arriscando perder dinheiro em uma negociação.
Existem diversos fatores que impactam no valor de uma empresa: quantidade de rede regularizada na concessionária de energia, tipos de equipamentos utilizados na infra, estrutura societária, contabilidade estruturada, ativos de rede, capacidade de rede disponível para expansão, ticket médio de venda, gestão, governança, compliance, entre outros. O ideal é sempre realizar um Valuation formal, para que assim, os ISPs tenham assertividade e segurança em saber qual deve ser o valor justo do negócio.
Como muitas plataformas de investimento já estão formadas e existe uma escassez de operações médias e grandes aptas a serem investidas, o foco está voltado para pequenas operações bem organizadas ou passíveis de organização.
Além do Valuation, outra etapa fundamental é realizar uma Auditoria Técnica Operacional.
A importância desse processo, não está em realizar a Auditoria somente no momento da fusão/aquisição, mas sim antes, pois com ela em mãos o provedor consegue analisar as questões técnicas e operacionais para que possam corrigir e melhorar seus próprios processos, otimizando seus recursos atuais e ainda melhorando uma avaliação em um futuro processo de M&A.
Mas por que um ISP fazer essa Auditoria Técnica Operacional?
Empresas de todos os portes e segmentos contratam auditorias financeiras/contábeis periodicamente, como por exemplo, Ernest & Young, KPMG, Deloite, dentre outras, justamente para não perderem o foco de governança e assim manter ou ajustar a saúde financeira, contábil e tributária das empresas, seguindo as orientações feitas com base na auditoria executada.
Então por que não realizar uma Auditoria Técnica Operacional para validar o que tem de mais valor dentro de um ISP, afinal, quem discorda que a Rede Óptica e a carteira de assinantes são o maior patrimônio de um ISP?
A Auditoria Técnica Operacional atua segmentada, assim focando bem em cada parte do processo.
A parte técnica irá validar desde dos ativos do Data Center, estrutura lógica da rede, passando pelo projeto de rede, seu lançamento, identificação e documentação.
Podemos exemplificar por exemplo que na parte Técnica são tratadas questões como o estado de conservação dos elementos da rede e suas instalações (se estão de maneira adequada), questões de obsolescência e desgaste, uso inadequado de estruturas, como, por exemplo, uso de postes sem licença ou até mesmo ferragens que não são suas no lançamento da sua rede óptica, o famoso “carona”, o estado de conservação geral dos veículos disponíveis para atendimento e instalação de seus assinantes, analisa o projeto de rede e vê como o mesmo foi criado, documentado, projetado, se contempla previsões de expansão da rede. E visto também todos os contratos com fornecedores como link, companhia de energia (compartilhamento de postes), swaps dentre outros, para garantir tranquilidade e escalabilidade futura.
A parte Operacional, faz parte do processo auditar questões operacionais como validar as métricas de Indicadores da Qualidade e Produtividade (KPI’s), tais como, quantidade de reparos, SLA, inadimplência e churn (cancelamento), nível de satisfação ou então de insatisfação dos assinantes dentre outros KPI’s importantes para o aumento da produtividade e qualidade do ISP, onde é visto todos os processos e procedimentos dos setores envolvidos.
Também é feito a análise do parque tecnológico, Data Center/POP, equipamentos de borda, concentradores, switchs, OLTs, geradores e etc.
É realizado uma análise dos processos e procedimentos usados no dia a dia da operação, para verificar pontos de gargalos ou melhoria.
A importância de contratar uma Consultoria independente para realizar esse estudo é fundamental e considerado um diferencial extremamente profissional para o ISP, pois como não faz parte da operação, não está no dia a dia, e se torna autônomo e sem os vícios, afinal quem está no dia a dia acaba absorvendo e nem reparando.
A Consultoria deve ter uma equipe técnica especializada e multidisciplinar no segmento de telecom, com larga vivência em ISPs, que detenha conhecimentos técnicos adequados, para realizar o trabalho. Empresas que realizam Due Diligence são aptas a realizar a Auditoria Técnica Operacional.
Em tempo, as diferenças entre as duas modalidades estão no seu foco, onde a Auditoria Técnica Operacional, quem faz a contratação e o próprio ISP e tem o foco de identificar os problemas e propor soluções para correções e/ou melhorias para o ISP. A Due Diligence quem contrata é o “comprador/investidor” e tem o foco de também de identificar os problemas, porém ela somente sinaliza os pontos levantados e mostra os pontos fortes, pessoas chaves e os valores para soluções dos pontos fracos conforme parâmetros pré-estabelecidos com a contratante.
Feito a Auditoria Técnica Operacional, é entregue um relatório detalhado com todas as informações auditadas, pontos fortes, pontos de melhorias, pontos fracos, colaboradores chaves de cada etapa, além do relatório a empresa recebe também uma matriz de análise de riscos onde serão destacados em grau de prioridade as ações e investimentos necessários para adequação conforme melhores práticas e um Rating Técnico Operacional que classifica e pontua a empresa conforme sua atual situação em comparação com players do mesmo porte.
Agora com isso em mãos, os Proprietários e Gestores, terão uma visão mais detalhada e realista do negócio com a redução ou eliminação de dúvidas de como está o estado da “saúde operacional” do ISP, e sendo assim, tendo argumentos suficientes para promover o futuro do ISP deixando ele preparado para o mercado, seja para M&A seja para o crescimento sustentável e saudável do ISP.
Droander Martins / Investidor, consultor, mentor e palestrante. Atua como conselheiro estratégico e é CEO da Vispe Capital e IPv7 Soluções Inteligentes, autor do livro INTANGÍVEL.