Em 2015, Facebook (agora Meta) começou trabalhar em desenvolver a tecnologia Terragraph, conformando um ecossistema de sócios composto de fabricantes (OEM) e provedores de serviços do mundo inteiro para desenvolver tecnologias que ajudem resolver alguns dos maiores desafios de conectividade. Os mencionados OEM, já enviaram mas de 50.000 unidades de Terragraph para centos de provedores de serviços e integradores de sistemas mundialmente. O objetivo do Telecom Infra Project da Meta é claro: permitir conectividade com baixos custos, e alta qualidade para milhares de pessoas com tecnologias emergentes. O vice-presidente da Meta Dan Rabinovitsj explicou no ano passado que por meio desses esforços “têm acelerado o acesso de mais de 300 milhões de pessoas para uma internet mais rápida” e esperam “permitir conectividade acessível, e de alta qualidade para o próximo bilhão de pessoas”.
Terragraph é uma iniciativa que promove o uso da banda de 60Ghz (não licenciada) sobre uma rede de distribuição sem fio multiponto, de múltiplos saltos (multi-hop), mediante transmissores que podem ser instalados em tetos e infraestrutura urbana como iluminação pública ou semáforos. Uma forma alternativa de backhaul, que faz a conexão entre o núcleo da rede e o acesso, usando rádio de ondas milimétricas.
A Qualcomm, um dos primeiros associados, alavancou o desenvolvimento integrando a tecnologia Terragraph nos chipsets dos módulos Wi-Fi com a intenção de criar uma rede de banda longa de alta velocidade para áreas urbanas utilizando servidores tradicionais em desuso, e já existem implantações em Anchorage (Alaska) e Perth (Australia) onde mais de 6.500 usuários estão experimentando o serviço que promete qualidade similar à das redes de fibra.
A MikroTik, também licenciada para Terragraph, acabou de lançar uma linha de produtos 60Ghz para estes fins: o Cube 60Pro utiliza Terragraph para oferecer uma alternativa de conectividade rápida e confiável a diferentes provedores arredor do mundo.
Enquanto as tendências estão sendo lideradas pela determinação de liberar o verdadeiro poder de tecnologias como 5G, a conectividade global está a caminho, e não apresenta sinais de se deter, mediante aplicações em tempo real e serviços de resposta imediata para cidades digitais.
Unidades em teste
Desde julho de 2021, a Meta se encontra enviando unidades de rádio para mais de 100 diferentes provedores de serviço e integradores ao redor do mundo (Vivo e Claro, os participantes brasileiros). Os parceiros Siklu, Mikrotik, Radwin, Edge-Core Networks e Cambium foram os encarregados do envio das primeiras 30.000 unidades: um esquema de poderosa colaboração cada vez mais utilizado para fomentar os novos ecossistemas:
O primeiro dos testes reais foi feito na empresa YTL Communications na Malásia, mediante parceria com Facebook. O teste consistiu em utilizar a tecnologia Terragraph para conectar 120 usuários de lojas e escritórios que possuíam conexões de cabo ou DSL. Para realizar o teste, a YTL fez primeiro uma pesquisa para identificar aqueles clientes corporativos que quisessem participar do teste numa modalidade trial de 6 meses.
Também foram implantados 50 hot-spots de wi-fi públicos na área de George Town, usando portal cativo. A maioria dos equipamentos utilizados para implantação, foram da Mikrotik.
Os usuários corporativos conseguiram atingir velocidades entre 10 e 172 vezes maiores do que na anterior conexão via cabo, e o serviço público conseguiu oferecer conectividade de alta qualidade para até 33.000 usuários. O resultado do teste após 6 meses, mencionou uma satisfação de 93% com o serviço oferecido segundo Wing Lee, CEO da YTL.
Porém, em casos de pequenas e grandes cidades que já possuem uma grande infraestrutura de banda larga a través de fibra óptica, será que a tecnologia é ideal?
Wireless drop
A combinação de Terragraph com soluções como o WPON (Nokia) e Wi-Fi 6, permite entregar serviços Gigabit sobre grandes áreas com alta confiabilidade, com possibilidades de suprir a futura demanda de acessos de banda ultra-larga e evitar o uso de cabos drop para última milha. A banda de 60Ghz permite conectividade de alta velocidade em áreas urbanas ou suburbanas para complementar a fibra existente, e além disso os CPE funcionam como parte de uma rede mesh que permitem entregar conectividade a prédios vizinhos, evitando restrições por linha de visada.
No caso da Alaska Communications, nos EUA, a companhia precisava uma solução de última milha que não fosse baseada em fibra, pois as redes de fibra nas condições climáticas do lugar (temperaturas de até -30°) não duram mais do que 5 ou 6 meses. Alaska Communications atualmente consegue fornecer velocidades de 1Gbps download e 100 Mbps upload para 6,500 usuários em Anchorage. A experiência até o momento parece ter sido positiva e a companhia está expandindo o uso de Terragraph para outras áreas, com vistas de atingir 40.000 usuários no presente ano. “A capacidade de poder implantar rapidamente serviços Gigabit com conexão sem fio fixa nos permite chegar rapidamente a locações que antes não era possível utilizando somente fibra” mencionou Bill Bishop, presidente de Alaska Communicactions.
Temos uma nova tecnologia entrando no novo mercado de internet sem fio fixa. Provedores, integradores, e participantes de projetos de cidades digitais devem de considerar Terragraph como mais uma alternativa no futuro mundo Gigabit para ficar na frente dessa revolução. Provavelmente os próximos passos da Meta sejam determinantes para promover a tecnologia. Será que já é a hora de adotar as redes mesh como parte da próxima evolução das redes urbanas?
Autor Adrian Lovaginini – Engenheiro em Telecomunicações com formação em Finanças. Atualmente é Assessor de Negócios de TI e Consultor da VoIP Group.