A inovação e o conhecimento, junto com as tecnologias de informação e comunicação (TIC) são as chaves para o progresso das cidades nas próximas décadas. Porém transformar escritórios, prédios, campus, ou qualquer tipo de ecossistema, requer de uma estratégia.
Representantes de países do mundo inteiro se reúnem há anos para conversar sobre cidades inteligentes e compartilhar projetos e iniciativas que utilizam tecnologia e procuram converter as cidades em metrópoles inteligentes.
Copenhague, denominada a cidade mais feliz do mundo, foi convertida em uma cidade inteligente. Utilizando sistemas IoT para gerenciamento inteligente da iluminação, do tráfego, e do lixo, além de plataformas para gerenciamento inteligente de prédios, a cidade busca atingir a neutralidade carbónica até 2025. O conceito: toda a informação deve de estar disponível para todas as pessoas por igual. Uma visão que pode revolucionar o desenvolvimento de uma cidade na totalidade.
A cidade de Barcelona, implantou no ano passado uma plataforma denominada Sentilo que consiste em uma rede de dispositivos IoT isolados do resto das redes, que consegue gerenciar até 10 milhões de dados por dia, mediante um projeto de código aberto, o que permite também que outras cidades e instituições utilizem tanto a tecnologia como a informação coletada.
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Na América do Sul a realidade é diferente, e embora temos iniciativas como iluminação inteligente e centrais de monitoramento, ainda estamos longe de atingir níveis mais interessantes de automação e coleção de dados. Há também muita resistência ao uso de alguns elementos, como a implantação de câmeras com reconhecimento facial, pela possível violação da LGPD e do direito à privacidade: isso acontece em todas partes do mundo e gera um debate constante entre acesso à informação e privacidade
Porém aos poucos, novidades e novas implantações vão aparecendo. O uso de sensores para monitoramento e gerenciamento remoto, já sejam terrestres (como estações meteorológicas e decibelímetros) ou via satélite são cada vez mais frequentes, e permitem a integração tecnológica com sistemas integrais que mediante machine learning permitem entender o crescimento urbano, o nível de contaminação, os alarmes para prevenção de incêndio e inundações, e a qualidade e o nível da água continuamente.
A arquitetura para uma Smart City se compõe de:
- A interação de sensores IoT e outros dispositivos com os sistemas de informação
- O processamento em tempo real, e histórico dos dados para obter relatórios de valor que possam ajudar às cidades na toma de decisões e planificação
- A criação de dashboards ou paneis de monitoramento que mostrem o 100% do tempo o que acontece na cidade, incluindo monitoramento de KPI, análises e relatórios.
Modelos de cidades e implantações
De infraestrutura semi-automatizada
A rede coleta dados sobre o próprio uso e o entorno, mas não pode tomar decisões baseadas na informação coletada. Exemplos: mapas de poluição ou análises do trânsito.
De infraestrutura automatizada
São sistemas que coletam dados, e após processamento podem ajudar à toma de decisões das pessoas. Exemplo: controle de congestionamento do trânsito, com avisos e/ou alarmes para os condutores.
De infraestrutura inteligente
Consiste em uma rede que além do anterior, incorpora dados de cada um dos usuários conectados à mesma, garantindo alta qualidade e segurança da informação. Exemplo: rede inteligente de transporte de energia, permitindo gerenciar capacidades dependendo dos consumos.
Prédios inteligentes
Aqueles construídos e instalados com sistemas tecnológicos que permitem automatizar processos internos como calefação, ventilação iluminação, segurança e outros sistemas.
Praias inteligentes
O uso de sensores, e drones nas praias, permite obter informações em tempo real para melhorar a experiência de locais e turistas: sensores para temperatura da areia, drones de vigilância de espécies perigosas, boias inteligentes, sensores de radiação ultravioleta e semáforos inteligentes nos acessos.
Smart Cities e ISPs
Qual é o papel dos ISP referente às Smart Cities? Dependendo das intenções, a participação pode mudar:
- Nos EUA, o fundo Smart City Infrastructure investiu em um plano para construir uma rede de fibra que abrange 55.000 residências e 5.000 comércios em California. A rede está pensada para poder distribuir serviços varejo (internet, triple play e telefonia) para todos os habitantes da região, mas a mesma poderá ser utilizada por múltiplos ISPs mediante acesso aberto, permitindo benefícios e competitividade para os usuários finais, e evitando futuros investimentos para conectividade na região. Além de fornecer serviços de internet de qualidade, a rede permite gerenciar uma alta demanda de dados de dispositivos, e gerenciar serviços urbanos para controle de tráfego, iluminação pública e serviços de emergência. A mesma já está pensada para oferecer suporte para redes 5G e IoT a sendo implantadas.
- É simples pensar em um modelo onde o ISP investiria na infraestrutura de uma rede IoT para fornecer serviços para as prefeituras de cada cidade, porém lembrando das experiências para fornecimento de Wi-Fi público, a maioria dos projetos acabam falhando, pois o provedor não pode fazer frente dos investimentos para um público instável. Para lograr um bom resultado, é necessário além do provedor e da prefeitura, que os cidadãos e as instituições locais se envolvam e comprometam também no processo. Os benefícios que a IoT pode oferecer para os habitantes são virtualmente ilimitados.
- Qualquer implantação de uma rede urbana para serviços, inteligentes, precisa de pelo menos um provedor para se comunicar com o resto da internet: os usuários finais podem requerer o uso de serviços por fora da rede urbana, desde redes de terceiros. Isto torna a própria rede em mais um grande cliente do ISP.
- Os ISPs com redes de fibra própria, podem tornar realidade o sonho de uma Smart City. As altas velocidades e um backbone confiável são a chave de sucesso para uma comunidade inovadora e uma rede que precisa de conectividade robusta para IoT, e para melhorar as operações e eficiência da cidade.
As iniciativas para transformação e criação de novas oportunidades das cidades podem transformar a vida de todos os habitantes, pero o sucesso não será possível sem fortes parcerias com os provedores de cada região para obter conectividade de qualidade, expertise, e recursos técnicos para suportar a demanda. São os próprios ISPs os que devem de marcar o caminho para o governo, e educar os líderes das comunidades sobre os recursos e know-how necessário para construir uma comunidade inteligente e conectada. Não existe hoje outra indústria com essas capacidades para o sucesso.
Autor: Adrian Lovagnini é Engenheiro em Telecomunicações com formação em Finanças. Atualmente é Assessor de Negócios TI e Consultor da VoIP Group.