Com a aprovação pela ANATEL dos requisitos técnicos para utilização do WIFI 6E indoor, os Provedores Regionais passam a ter uma nova tecnologia sem fio à disposição para turbinar as velocidades para os usuários dentro das residências e empresas.
Após a evolução tecnológica do FTTH, que impulsionou o crescimento dos provedores regionais nos últimos anos ao levar altíssimas velocidades para os usuários por meio de redes óticas, surge um novo desafio no horizonte. É um problema que, sem sombra de dúvidas, tem causado as maiores incidências de abertura de chamados técnicos: reclamações dos usuários por não atingirem a totalidade da velocidade contratada em seus dispositivos, principalmente os sem fio. Vale lembrar que os dispositivos sem fio são (de longe) a principal escolha dos brasileiros ao navegar na internet.
Apesar de todo preparo dos provedores regionais para garantir o melhor atendimento possível e informar as especificações técnicas necessárias para atingirem velocidades maiores, o problema persiste. Muito em razão do precário entendimento técnico do usuário, ocasionando sistemáticos chamados ao provedor regional, gerando custos com recorrência de atendimentos que não podem ser resolvidos porque os dispositivos do usuário não atendem os requisitos básicos para atingirem as velocidades contratadas.
O WI-FI 6E opera em três bandas 2.4GHz, 5GHz e 6GHz, o que permite uma melhor performance e estabilidade entre equipamentos compatíveis. Lembrando que no Brasil a ANATEL liberou o uso de 1.200Mhz para a frequência de 6GHz, possibilitando assim a oferta de um maior número de canais o que permitirá uma melhor gerência a fim de evitar congestionamentos e interferências.
A nova tecnologia opera normalmente com dispositivos 2.4GHz e 5GHz, mas vale ressaltar que sem os benefícios que o WI-FI 6E trazem em maiores velocidades, menores latências e maior segurança de rede. Logicamente para usufruir dos benefícios da nova tecnologia os dispositivos precisam ser compatíveis com o WI-FI 6E.
O grande empecilho é que temos uma deficiência muito grande de fornecedores no mercado nacional de produtos WI-FI 6E. A dificuldade de aquisição e os preços exorbitantes ainda são um proibitivo até mesmo para criação de ambientes de testes, isso tem atrasado a utilização da tecnologia no Brasil.
Hoje encontramos equipamento WI-FI 6 que operam somente em 2.4GHz e 5GHz, trazendo assim as melhorias oferecidas pelo protocolo 802.11ax, mas sem utilizar os benefícios disponibilizados pelo uso da frequência de 6GHz que potencializa todos os recursos da tecnologia.
Apesar da boa notícia de que toda a faixa de 6 GHz (5.925-7.125 GHz) foi destinada pela ANATEL para uso do WI-FI 6E – agora ainda com sinalização de liberação do uso outdoor desta frequência – precisamos ficar atentos para evitar retrocessos. Do outro lado, temos um lobby muito forte da indústria de celular e das operadoras móveis para que parte da frequência seja destinada ao 5G. Fato que precisa ser combatido com a ocupação dessa frequência pelos provedores regionais evitando assim que ela seja de alguma forma reavaliada pela ANATEL, devido à baixa adesão do seu uso indoor ou outdoor.
Fazemos um apelo aos provedores regionais que cobrem dos fabricantes e distribuidores a introdução de equipamentos WI-FI 6E no mercado nacional a preços interessantes. É muito importante que iniciem o mais rápido possível os ambientes de testes, apresentando aos usuários o potencial que a tecnologia WI-FI 6E pode agregar em qualidade e eficiência. Essa tecnologia permite aos usuários obterem toda eficiência, baixa latência, qualidade e velocidades do acesso banda larga contratado.
A aposta da ANATEL é justamente na ocupação da faixa de 6 GHz com a utilização da tecnologia WI-FI 6E e futuramente o WI-FI 7, abrindo a possibilidade de criar um ambiente mais competitivo para os provedores regionais, já que grande parte não teve condições de ter acesso ao leilão de frequências do 5G. A introdução do WI-FI 6E ainda possibilitará aos usuários uma experiência no mesmo patamar do 5G, mas com potencial de implementação muito mais rápido nas pequenas e médias cidades do Brasil.
Para ajudar nesse esforço para impulsionar o uso de Wi-Fi na faixa de 6 GHz no Brasil, a ABRINT – Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações firmou uma parceria com a Dynamic Spectrum Alliance (DSA) – ao lado de suas empresas associadas Broadcom Inc. e Cisco Systems Inc. A parceria visa fornecer acesso e capacitação sobre o Sistema de Coordenação Automatizada de Frequências (AFC, na sigla em inglês) para uso outdoor da faixa de 6 GHz, na esteira da Consulta Pública N° 79 da ANATEL, realizada no fim de 2022.
A Broadcom e Cisco são as fundadoras do Open AFC do Telecom Infra Project, que está projetando uma plataforma AFC totalmente funcional em software aberto. Como resultado da nova colaboração, a Broadcom e a Cisco se comprometeram a modificar o código aberto para atender aos requisitos do Brasil, assim que estiverem finalizados pela ANATEL. Além disso, o acordo promoverá mais apoio aos provedores regionais em todo o Brasil, com treinamentos sobre o uso do sistema.
Assim, esperamos que o Brasil esteja pronto para adotar essa novidade o mais rápido possível, seguindo na missão diária dos provedores regionais de promover inclusão digital e conectividade significativa em todo o Brasil.
Mauricélio Oliveira, membro fundador e atual Diretor Presidente da ABRINT – Graduado em Engenharia Elétrica e Administração de Empresas, com vasta experiência no setor de telecomunicações.