Os desafios do novo patamar de conectividade no Brasil
Enviado em 07.12.2023

Os desafios do novo patamar de conectividade no Brasil

Um dos papéis da Abrint é participar ativamente dos debates públicos acerca da internet e conectividade no Brasil. Em 2023, especialmente, a associação […]

Um dos papéis da Abrint é participar ativamente dos debates públicos acerca da internet e conectividade no Brasil. Em 2023, especialmente, a associação tem se desdobrado para se fazer presente nos principais eventos nacionais e internacionais – como o Consumer Electronics Show (CES), o Mobile World Congress (MWC), a “Internet for Trust” da UNESCO e o World Summit on the Information Society Forum (WSIS) da ITU, entre outros.

Esse esforço constante tem permitido a Abrint dialogar com tanto os reguladores brasileiros e formuladores de políticas públicas, como com as principais lideranças da indústria de conectividade e internet no mundo. De todos esses diálogos, uma coisa tem ficado muito clara: o Brasil está alcançando um novo patamar quando o assunto é conectividade.

Nosso país já é uma referência quando se trata de competitividade, com o sucesso inequívoco do modelo de assimetria regulatória que proporcionou um mercado de provedores regionais únicos no mundo. Os dados oficiais da ANATEL mostram o avanço substancial na inclusão digital, com o aumento de mais de 18 milhões de acessos de banda larga fixa desde 2016 – e sabemos que este número deve ser ainda maior, já que seguimos com problemas de subnotificação de dados. Segundo o IBGE, já conectamos mais de 90% das residências brasileiras.

Além disso, o Brasil vem se posicionando na vanguarda mundial na gestão do espectro de radiofrequências. O país foi um dos pioneiros no mundo a destinar os 1.200 MHz da faixa de 6 GHz para uso indoor não licenciado (equipamentos de Wi-Fi). Agora, a ANATEL já avalia liberar também o uso outdoor, que pode impulsionar a adoção das tecnologias Wi-Fi 6E e 7. Não é exagero dizer que a indústria mundial está olhando para nós com muita atenção – o país está se posicionando para dar um salto ainda maior de conectividade!

É por isso que percebemos uma mudança nos diálogos. Daqui para frente, ouviremos cada vez menos sobre “expansão de redes” – frase que marcou o trabalho da ANATEL e dos provedores regionais na última década. A bola da vez é a “conectividade significativa”, que expande a visão para além do alcance da infraestrutura e relacionam-se e ao empoderamento do usuário através da sua capacidade de uso pleno da internet. Embora esse conceito tenha sido esculpido e debatido no âmbito da UIT desde o início de 2020, a evolução crescente no acesso das redes importou na sua retomada, compreendendo a conectividade em um contexto maior de políticas de transformação digital.

Essa mudança de visão traz diversos impactos sobre o mercado de internet e a sociedade em geral. Do lado das redes, a atenção da indústria e dos reguladores vai mudar progressivamente para indicadores de qualidade, velocidade e capacidade de tráfego de dados, por exemplo. Já pelo lado dos devices, veremos mais atenção sobre acessibilidade, tanto em termos de usabilidade como de custo. Por fim, do lado do usuário, veremos o esforço ampliado de governos e da sociedade sobre educação e o desenvolvimento de habilidades e competências digitais.

Ainda que nossos provedores regionais estejam em posição privilegiada para esse movimento – pela proximidade com o consumidor final e o por seu DNA de flexibilidade e empreendedorismo – eles precisam estar atentos a esta mudança de paradigmas. Esse novo viés vai reforçar a importância da profissionalização da gestão, com atenção máxima à capacitação e experiência do cliente, em especial com a qualidade do sinal de Wi-Fi dentro das residências, escritórios ou fábricas.

O provedor “à prova do futuro” vai ter que continuar a evoluir com o mercado, já que ser bom em construir rede não vai ser mais diferencial suficiente frente as novas demandas sociais e econômicas. Na prática, as equipes de vendas precisam se capacitar para entender as novas necessidades de seus clientes – o foco na experiência de Wi-Fi já é uma realidade crescente no mercado corporativo, por exemplo, no qual o futuro é de trabalho híbrido e wireless, com grande necessidade de tráfego para voz e vídeo. As equipes de instalação vão precisar pensar rápido para entregar o “hassle-free Wi-Fi”, isto é, uma rede integrada e eficiente, que não dê trabalho ao cliente em qualquer lugar do recinto. As equipes de assistência vão precisar integrar ferramentas de automação e monitoramento, além de “dar aula” de habilidades digitais aos clientes.

Esse novo foco em “conectividade significativa” não quer dizer que os provedores podem esquecer da fibra e que deixaremos de lado os esforços de universalização da infraestrutura de acesso. Contudo, esses esforços vão ser cada vez mais aliados à inteligência de dados. A universalização do acesso, daqui para frente, vai demandar ações de parceria entre público e privado. O regulador passará a olhar quais as deficiências de mercado específicas que limitam a conectividade de uma determinada localidade e buscará construir incentivos e soluções pontuais.

Por fim, vale reforçar a importância dos ISPs participarem em peso de todas as coletas de dados da ANATEL. Não apenas para afastar esforços públicos em regiões já atendidas, mas especialmente em garantir o protagonismo dos provedores regionais nas políticas públicas, se tornando os parceiros preferidos para as futuras ações de universalização.

Autor: Rhian Duarte, Gerente da ABRINT

Sobre o autor: Cientista Político com especialização em políticas públicas e gestão, com foco em inovação e digitalização. É Gerente de Relacionamento Institucional da ABRINT – Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações.

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