Com a chegada de 2024, o setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) enfrentará um grande período de mudanças. Essas mudanças refletem as inovações tecnológicas e, ao mesmo tempo, indicam um amadurecimento estratégico no setor. Este ano, novas tendências irão surgir nas empresas de TIC, alterando sua oferta de serviços e sua postura no mercado global.
Uma das principais mudanças observadas é a evolução dos tradicionais Internet Service Providers (ISPs) para Solution Service Providers (SSPs). Mudança esta que vai além de uma simples expansão de serviços e portfólio. Representa uma redefinição completa do papel destas empresas no ecossistema de TIC. Os SSPs agora estão à frente, com um leque de soluções que abrangem desde cibersegurança, Internet das Coisas (IoT) até computação em nuvem. Esta transição é uma resposta estratégica às demandas por tecnologias integradas e personalizadas e às novas dinâmicas do mercado.
Para se consolidarem como SSPs, os ISPs estão diversificando seus investimentos e expandindo suas ofertas de serviços. O foco deixa de ser apenas o mercado de Telecomunicações, ampliando-se para a incorporação de empresas que oferecem serviços complementares. Esta estratégia de diversificação está permitindo que essas empresas se transformem em líderes no fornecimento de soluções integradas, refletindo um cenário onde inovação, personalização e segurança cibernética são essenciais.
O ano de 2024 também será marcado pelo movimento de separação dos ISPs em InfraCo e ClientCo, onde será realizada a separação da infraestrutura física e cliente. Essa estratégia visa a realização de negócios distintos entre as soluções e uma especialização mais focada. Estima-se que 5 a 10% dos provedores com mais de 30 mil assinantes iniciarão esse processo de separação nos próximos 36 meses, uma transformação que requer tempo, organização e recursos técnicos e estratégicos significativos.
O setor financeiro também está desempenhando um papel muito importante nesta transformação. Com a previsão otimista da redução das taxas de juros em 2024, um novo grupo de investidores e fundos deve voltar-se para o mercado de TIC, sendo atraídos pelo seu potencial lucrativo. Esse aporte financeiro está impulsionando o crescimento e a inovação, abrindo caminhos para avanços tecnológicos e expansão de negócios. No entanto, essa diversificação traz consigo complexidades adicionais, especialmente no que diz respeito aos processos de Due Diligence em fusões e aquisições. Avaliar uma empresa que agora oferece uma gama de serviços diversificados requer uma análise mais detalhada e compreensiva, levando em conta as sinergias e sobreposições tanto internas quanto no contexto mais amplo do mercado.
E considerando ainda os aspectos ligados à Due Diligence, cibersegurança será um tema importante nas avaliações dos investidores neste ano e será visto como um diferencial crítico nas estratégias de investimento. Fundos ligados ao setor, estão redefinindo suas abordagens, considerando a maturidade em cibersegurança como um indicativo de gestão avançada e potencial de retorno. Além disso, ter um processo bem definido para a realização de estudos de mercado que antecedam qualquer aquisição, tornou-se fundamental no processo de tomada de decisões. Investidores irão focar na realização de análises detalhadas do perfil da população, das necessidades das empresas locais e da economia regional, antes de realizar qualquer aporte financeiro. Essas análises permitirão identificar oportunidades específicas, para diversificação dos serviços da empresa adquirida, além de avaliar cenários de inadimplência e alinhar as ofertas aos padrões de consumo locais.
Outra tendência que se mostra presente é o surgimento de novas opções de crédito estruturado, estimulado pela redução das taxas de juros. Essas novas formas de financiamento estão permitindo às empresas de TIC explorarem e implementarem estratégias financeiras mais inovadoras e adaptáveis, essenciais para sustentar seu crescimento e expansão. No setor de telecomunicações, nota-se a tendência de os ISPs utilizarem a própria infraestrutura de rede como garantia dessas captações de crédito. A avaliação técnica e a conformidade regulamentar estão transformando esses ativos em garantias confiáveis para operações financeiras.
Além disso, estamos testemunhando uma supervalorização do segmento B2B. Com o mercado B2C aproximando-se da saturação, o B2B está ganhando destaque, especialmente na oferta de soluções personalizadas para empresas e instituições governamentais. As empresas que oferecem soluções inovadoras alinhadas às estratégias de negócios de seus clientes estão ganhando um bom terreno no mercado. E com isso, evidenciamos o surgimento e a valorização de nichos especializados no setor, juntamente com a estratégia de terceirização. Os serviços conhecidos como “as a service” além de serem uma maneira eficiente de redução de custos, estão se tornando um meio para adquirir habilidades e conhecimentos especializados rapidamente. Movimento que está permitindo às empresas se concentrarem em suas competências principais, abrindo espaço para inovação e desenvolvimento de novos produtos e serviços.
Desta forma, torna-se claro que 2024 será marcado por mudanças transformadoras no setor, e para as empresas que estão atentas a essas ondas de transformação e prontas para “surfá-las”, o futuro reserva um potencial de crescimento e sucesso significativo. E a chave para navegar neste futuro está tanto na capacidade de se adaptar rapidamente às mudanças quanto na habilidade de inovar de forma constante e desenvolver estratégias de crescimento que sejam eficazes e também sustentáveis a longo prazo.
Maria Eduarda Subtil, Sócia e Diretora de Marketing e Operações da IPV7. Graduada em Engenharia de Produção, com especialização nas áreas de marketing, gestão e processos.