No planejamento diário de atividades nos deparamos com as necessidades e anseios dos gestores de rede, que sempre estão a busca de informações para a realização das atividades de construção.
Atualmente existe grande tendência das empresas na conexão em fibra a todos os seus locais de atendimento, bem como a busca por conexão e chegada em locais estratégicos, como Pontos de Troca de Tráfego, ou até mesmo acesso a um Datacenter específico. O planejamento para esse tipo de implantação requer olhar técnico do gestor, que administrará desde a compra do material até sua montagem e operação. Nosso objetivo é o de passar algumas dicas para que seu enlace em fibra seja implantado da melhor maneira possível, buscando a otimização da utilização dos elementos para que se tenha um resultado ótimo.
Neste tipo de construção, deverão ser observados aspectos relativos ao relevo, alturas de fixação de cabos, construção e implantação de rede própria, entre outros, para que a rede atenda a todos os critérios técnicos e apresente a confiabilidade necessária para operação.
Descreveremos brevemente alguns critérios da Norma Técnica NBR 14160:2005 cuja aplicação é fundamental para que tenhamos sucesso nas implantações. Nesta coluna, trataremos somente de características mecânicas, para que seja mantida a objetividade necessária, outras características poderão ser objeto de discussão futuramente.
A Norma Técnica NBR 14160:2005 trata especificamente dos cabos ópticos dielétricos autossustentados, nela estão descritas todas as condições para designação, fabricação, especificação e aplicação dos cabos, nas diversas condições de operação. Separamos e analisamos alguns itens considerados essenciais, para que o gestor possa tomar a decisão correta na escolha dos materiais e execução da rede:
CRITÉRIOS TÉCNICOS A OBSERVAR PARA COMPRA E APLICAÇÃO DE CABOS ÓPTICOS
Carga de Operação: É a maior carga de tração que um determinado cabo suporta sem apresentar deformações em suas fibras, e que delimita os esforços a que ele pode estar submetido durante sua vida útil. Estes esforços são compostos pelo seu peso, pressão (do vento) máxima horizontal ao vão e componente horizontal da tração axial.
Os cabos ópticos são designados pelo seguinte código:
CFOA – X – T – Y – W – Z – K
CFOA é o cabo de fibra óptica com revestimento em acrilato;
X é o tipo de fibra óptica (MM – Multimodo, SM – Monomodo, DS – Monomodo de dispersão deslocada ou NZD – Monomodo de dispersão deslocada e não nula);
T é a aplicação do cabo e tipo de núcleo óptico (AS – Tubos encordoados, ASU – Tubo único ou ASH – Ranhuras);
Y é o vão máximo de operação (Carga Máxima x 1,5 P – 80 metros, Carga máxima x 2 P – 120 metros, Carga máxima x 3 P – 200 metros);
W é o tipo de barreira à penetração de umidade (Geleado ou Seco);
Z é o número de fibras ópticas (2 a 144);
K é o tipo de revestimento externo (RC – Retardante a chama, NR – Normal);
Para elaboração da lista de materiais, o Gestor deverá observar os seguintes critérios técnicos e de aplicação:
Analisar o projeto da rede óptica, compatibilizar com as condições de campo tais como: vãos e posicionamento dos postes, mudanças de direção, altitude e relevo no posteamento, localização das emendas, tamanho estimado dos lances, necessidade de emenda em locais de cruzamento ou de risco, possíveis obstáculos que dificultem o acesso aos postes, recursos adicionais para lançamento (pontes, travessias de rodovia), possíveis localizações de final de bobina, verificar se há espaço para acesso do veículo em todos os postes;
A partir deste levantamento, deverá ser realizada a contagem de elementos necessários para instalação, contemplando todos os itens a utilizar, inclusive quanto a escolha de carga máxima de operação do cabo.
O objetivo da análise é a obtenção de quantidade de postes com suspensão e postes com ancoragem, contados e marcados no projeto, para que se possa realizar o levantamento de materiais, compra das ferragens e cabos.
É muito importante verificar pontos de ancoragem e instalação de alças pré-formadas, nesse ponto encontramos redes que estão instaladas em desacordo com especificações e manuais técnicos, com menos pontos de ancoragem, ocasionando a aplicação de cargas superiores às suportáveis pelo cabo. Vale ressaltar a importância de relacionar os custos de ferragens x custo de cabo.
Somente com essas informações definidas será possível realizar a compra correta de itens para a execução da rede!
Deverão ser considerados não somente os vãos entre postes de cada projeto, bem como a distância de ancoragens e mudanças de direção. É recomendável que seja seguida a especificação técnica de Carga de Operação do cabo óptico, conforme o material disponível, Abaixo exemplificamos a instalação de rede de acesso utilizando-se do cabo AS200 (ou ASU, ASH) x instalação utilizando-se do cabo AS120:
Para cabos Autossustentáveis – vãos de até 80 metros: Aplicar elementos estabilizadores de rede a cada 80 metros;
Para cabos Autossustentáveis – vãos de até 120 metros: Aplicar elementos estabilizadores de rede a cada 120 metros;
Para cabos Autossustentáveis – vãos de até 200 metros: Aplicar elementos estabilizadores de rede a cada 200 metros;
Essa medida evita que as fibras “corram” dentro do cabo, ocasionando inicialmente problemas de atenuação e culminando no rompimento das fibras.
Deve-se respeitar o vão máximo de operação de cada cabo, bem como as trações aplicadas na hora do puxamento, que deverão ser aplicadas lance a lance ou conforme especificações de projeto.
Também é imprescindível que as equipes de execução possuam capacitação segundo disposições vigentes e contratuais com a Concessionária de Energia, ferramental adequado e em bom funcionamento (caminhão, dinamômetro, camisas de puxamento, removedores de revestimento e cortador de fibra, entre outros) para que se possa executar as atividades de construção em qualquer local, seja de fácil ou difícil acesso.
Dica para o gestor que trabalha com equipes terceirizadas: uma boa inspeção nos equipamentos citados acima (antes de contratar a equipe), poderá dar ideia do tipo de serviço que será prestado!
É primordial trabalharmos com a mentalidade de construir redes sólidas e confiáveis, pois as redes de acesso são fundamentais e não poderão parar. Uma falha por rompimento de cabos, ou fibras correndo dentro do cabo é desastrosa, e difícil de consertar.
Fique atento aos detalhes, e boas obras!
Eloi Piana – Engenheiro Eletricista formado pela Unioeste, Diretor da empresa Instelpa Engenharia Elétrica, profissional certificado em Projeto e Execução de Redes Ópticas.