Certa vez, eu estava procurando algumas informações sobre automóveis na Internet e, em certo momento, tive a oportunidade de me deparar com um artigo que analisava automóveis BMW e onde se lia: “Nada mais caro que uma BMW barata”. O texto ainda informava que essa afirmação “Nada mais caro que um carro barato” no meio automotivo vale para todo e qualquer carro que você encontra para possível compra e que esteja com um preço muito abaixo da média. Ao ler o texto, ele me fez refletir profundamente sobre a afirmação!
Logo ao finalizar o texto, meus pensamentos acabaram me conduzindo a realizar um paralelo comparativo com o mercado de Provedores de Internet. Fazendo com que, quase que imediatamente, me remetesse à frase que ilustra o título deste artigo: “Não existe nada mais caro que um provedor barato”!
Ao ler a frase “carro com pequenos detalhes” isso leva a uma série de desdobramentos e questionamentos. Se são apenas pequenos detalhes, então porque o proprietário do veículo não soluciona esses, para agregar valor e valorizar o veículo e facilitar a venda? Será que esses consertos, de fato são tão simples quanto a frase propõe?
Da mesma forma um provedor que tenha “pequenos detalhes” para resolver, será que são realmente pequenos detalhes? Ou quando formos a fundo buscar a resolução dos problemas corremos o risco de nos depararmos com um “buraco sem fundo”, onde o pequeno detalhe se desdobra em diversas outras questões?
Assim como as BMW, podemos encontrar provedores com diferentes valores de venda. Alguns “inexplicavelmente” abaixo do preço praticado pelo mercado. Também com a singela afirmação: “apenas alguns detalhes para resolver”. Será que um ISP pode mesmo ter apenas pequenos detalhes, fazendo com que o preço de venda seja de fato mais baixo?
Assim como em um automóvel, onde é de extrema importância que você compareça com um mecânico de confiança, que possa efetivamente lhe informar o estado do veículo e possíveis manutenções que precisem ser realizadas, evidenciando o custo “da brincadeira”, é de total importância que você consulte um especialista em provedores para avaliar de fato o valor justo do provedor e, principalmente entendendo os riscos e custos envolvidos para solução dos “pequenos problemas”.
Consertar veículos de luxo usados pode custar até seis vezes mais caro do que de carros convencionais com o mesmo valor de mercado. A diferença é realmente muito grande. Então, podemos entender porque os veículos BMW são oferecidos para comercialização com valores “tão baixos e convidativos”.
Fazendo um paralelo com o mercado de provedores de Internet, quanto custará a compra de um provedor aparentemente “barato” para que possa ser regularizado e colocado em condições?
Temos algumas questões, que podem comprometer seriamente para que o provedor seja devidamente regularizado. Podemos citar alguns exemplos que, como diz o dito popular, onde “o tiro pode sair pela culatra”. São eles: imagine um provedor que não possua nenhuma nota fiscal que comprove a compra dos equipamentos e matérias, tendo sido adquiridos no “mercado negro”? Como regularizar essa questão?
Ainda podemos citar o uso de materiais e equipamentos que não tenham homologação junto à Anatel. Isso implicaria em sua total substituição. Além dos custos decorrentes da compra e “perda” do material adquirido temos os custos de mão de obra e o pior de tudo, a possível interrupção no fornecimento de serviços aos clientes.
Ainda pode ser possível que um ISP que seja barato não apresente problemas em continuar operando! Mas pode não ter
condições para suportar um crescimento de base de clientes ou ainda a mudança de tecnologia como, por exemplo, conectores que não são adequados ao XGSPON, entre outras questões.
Outro ponto relevante que deve ser mencionado refere-se a total inexistência de documentação do processo construtivo e do projeto adotado no provedor. E pior, talvez nem mesmo haja projeto.
Em provedores onde não existe a documentação técnica, tanto de rede, quanto de processos operacionais, contamos unicamente com “pessoas-chave”, que possuem os processos memorizados ou mesmo em arquivos de caráter pessoal. E nesses casos é imprescindível que estas pessoas sejam identificadas e mantidas na empresa. Mas essas mesmas pessoas podem trocar de trabalho, e em casos mais graves, sofrer acidentes letais ou que os incapacitem permanentemente, tornando impossível buscarmos qualquer informação necessária. Sem a presença dessas pessoas, e devido à falta de documentações, o ISP pode passar por uma grande crise operacional interna bem séria.
Ainda podemos citar outras questões como exemplo: a presença de POPs (Points of Presence – Pontos de Presença) sem que exista um contrato de locação de espaço físico, forçando a necessidade de migração “da noite para o dia” em certas situações, como na ocorrência de inventários ou separações legais por parte do locador.
O uso de splitteres fusionados em toda rede, até mesmo nas CTOs (Caixas de Terminação Óptica), que faz a operação ficar refém de inúmeras máquinas de fusão, caras e sujeitas a roubos e acidentes, que, às vezes, nem se encontram disponíveis e que exigem uma busca urgente no mercado
Há ainda muitos provedores que dizem ter enorme escalabilidade na rede, porém construídos sobre uma topologia totalmente não recomendada e inadequada ao uso em questão, e devido aos altos consumos de banda por parte dos usuários, venda de planos fora dos padrões técnicos recomendados e com tendência de aumentar ainda mais, que forçam aumento de capacidade de link e também substituição imediata de equipamentos, sob pena de colapso na rede.
Como fazer para solucionar problemas recorrentes de instabilidades decorrentes de erros de projeto/instalação? Se for realizar expansão, como a rede foi construída? Que premissas foram adotadas? A equipe de instalação não se encontra mais no provedor! Como então fazemos para resgatar as informações ocultas? Talvez se tenha que refazer todo processo de instalação novamente, agora com a documentação gerada adequadamente?
Isso mencionando questões técnicas da estrutura de rede. Temos ainda as questões operacionais e administrativas, como por exemplo, questões trabalhistas ou relativas a acidentes de trabalho por desrespeito às normas e leis vigentes. Dívidas com o fisco retroativas que foram negligenciadas por anos. Como resolver esses “pequenos probleminhas”? Será que de fato são pequenos probleminhas ou grandes gastos?
Aqui podemos entender a importância de auditar uma operação antes de realizar a compra. Para podermos entender os “pequenos (grandes) detalhes” que precisam ser feitos realiza-se uma Due Diligence, onde conseguimos mensurar riscos, prever possíveis problemas e até mesmo estimar o CAPEX para correção dos problemas.
Autor Droander Martins – Investidor, consultor, mentor e palestrante, atua como conselheiro estratégico e
é CEO da Vispe Capital e IPv7 Soluções Inteligentes. Além disso é autor do livro INTANGÍVEL.