A vida é repleta de ciclos, e de ondas que vem e vão. Essa afirmação é uma verdade inquestionável. A vida é permeada também por negócios. E sobre os negócios, podemos dizer que a história não se repete como em ciclos, mas como uma espiral, tal qual uma sinfonia de Sibelius.
Conheça seu passado, analise seu presente e terá condições de avaliar o caminho do futuro. Entendendo isso, podemos perguntar sobre os negócios. Existe uma hora certa para comprar ou vender a sua empresa? Há momentos bons e ruins? Como podemos identificar?
“Compre ao som de canhões e venda ao som de violinos.” Essa frase é atribuída ao financista londrino Nathan Rothschild e muito disseminada por Warren Buffet. Mas o que isso quer dizer?
O Barão Rothschild foi um nobre britânico do século 18 fez uma fortuna realizando compras no momento de pânico que se surgiu à Batalha de Waterloo contra Napoleão, depois, vendendo em momento favorável com lucros elevados. Mas quando identificamos o som dos canhões e quando identificamos o som dos violinos no mercado?
Intuímos que o som de canhões nos indica o mercado ruidoso, em guerra, ou seja, pelo menos em tese é um momento ruim de realizar negócios, e os violinos, representam o momento favorável para comprar ou vender. Isso sugere que os momentos de “guerra” são bons para investir no mercado de ações, visto que, quem vende está desesperado, com medo do som dos canhões. Quanto pior humor do mercado, melhores são as oportunidades de lucro. Neste caso temos a lei da oferta e da procura. Quando a oferta é muita e a procura é baixa temos a redução de preço. Já quando ouvimos o som dos violinos, é quando o mercado inteiro está em expansão com otimismo e os rendimentos das empresas superam as expectativas.
Vamos elaborar uma análise do mercado das telecomunicações, como podemos identificar se o mercado está ou não parado? Podemos iniciar dizendo que o mercado não está parado, visto que operadoras, provedores e investidores estão em movimento, embora, pareça estagnado, porque alguns pararam de comprar para fazer a “digestão” e incorporação das muitas operações, e isso não é uma tarefa fácil e rápida. Uma coisa é certa: haverá novas ondas e novos players. E quanto ao que estamos vendo, como tomar decisões?
Devemos ter cuidado! Com o universo de circunstâncias é possível visualizarmos, mas não nos permite que possamos tomar decisões completamente acertadas. Uma vez que existem coisas invisíveis, as quais obviamente não estamos vendo.
O que determinará qual é o melhor momento para um bom negócio? Como vimos, não podemos tomar decisões unicamente baseadas nas circunstâncias que estejamos vendo no momento. Nada dura para sempre, nem crises, nem os momentos de bonança. Veja, por exemplo, que na bolsa de valores e em relação aos IPOs em geral, pré-pandemia, em 2020 tínhamos vendas com valores acima da realidade em todos os setores do mercado. Os IPOs pós- -pandemia em todos os mercados mudaram suas configurações por diversas questões. Se analisarmos os últimos negócios listados em bolsa de valores, quase a totalidade deles, está no negativo. Isso evidencia que essa situação não é uma particularidade somente do setor de telecomunicações.
Nessa época, ainda havia uma taxa de juros mais baixa e os IPOs tinham tendência de ir bem. Mas com o aumento da taxa de juros, como temos visto nos últimos meses, os investidores preferem não arriscar, mesmo as empresas em bolsa apresentando bons resultados. Os investidores preferem não investir no mercado de ações que é um mercado variável e de elevado risco para investir em negócios com menor risco.
O mercado é formado por ondas. Embora o mercado pareça retraído podemos afirmar, com certeza, que não está, pois muitos eventos grandes estão por acontecer. No decorrer dos próximos meses veremos muitos negócios acontecendo e muitos se questionarão: “Quando isso aconteceu?”
É preciso lembrar que o recuo repentino das águas, normalmente, sinaliza tsunami. Os maiores negócios que vão ocorrer no setor de telecomunicações estão nesse momento, aparentemente invisíveis. Empresas de telecomunicações que olham apenas as manchetes da mídia, veem as ações em baixa e muitas empresas de Telecom a venda, e então tomam decisões baseadas nesse espectro visível.
Há oportunidades e também ameaças, certas vezes invisíveis e temos que saber identificá-las. Como, por exemplo, as redes neutras que são uma oportunidade para provedores pois permitem uma forma de crescer sem que tenhamos que dispender grandes recursos (capex). Porém, compreenda que as próprias operadoras neutras negligenciam uma ameaça invisível que é sua principal concorrente, isto é, fabricantes e distribuidores que dão crédito e estão no modelo turnkey. Muitos provedores em vez de redes neutras, preferem comprar com 6 meses de carência e prazos de 60x, realizar o financiamento com os próprios fornecedores. E depois de findado o financiamento a rede é de propriedade do provedor, o que não vai acontecer com as redes neutras.
Grandes operadoras estão mais preocupadas com a concorrência entre outras operadoras de redes neutras sem avaliar modelos de fornecedores com financiamento próprio e turnkey. Ser dono ou pagar o aluguel de uma rede? Pode ser muito mais barato em um horizonte de 5 anos, por exemplo, comprar equipamentos financiados, e as operadoras de redes neutras não estão se atentando para essa ameaça “invisível”.
Observamos ainda uma tendência de fusões entre pequenos e médios fundos de infra e big Telcos que estão “indo às compras”, muito embora isso não apareça ao mercado. A cada dia há novos players que estão entrando e saindo. Assim, a saída de alguns grandes não é sinal negativo, mas o caminho natural de uma consolidação (Vero e Alloha estariam a venda como vazou na mídia, por exemplo).
Concluímos que o mercado não está parado. Baseado nisso, assim como os maiores financistas do mercado usam a filosofia proposta por Rothschild, o setor de Telecom não está necessariamente bom nem necessariamente ruim. Estamos em um momento intermediário. Podemos dizer que sons de canhões e de violinos vão coexistir por algum tempo, pois existe um assentamento natural do mercado. Ainda haverá muitas aquisições no mercado, mas, em contrapartida, quem comprou, também quer vender. Os grandes estão se movimentando. Quem estiver bem organizado será alvo dessas novas oportunidades. Independentemente de canhões ou violinos é certo que negócios e oportunidades vão acontecer.
Antigamente acreditava-se que a venda de uma empresa era o movimento de um empresário que avalia um possível fracasso do negócio, mas o que vemos hoje é o oposto: o momento da venda de uma empresa é o ápice da vida de um empresário, que, atinge sua liberdade financeira e realiza o maior feito, que é provar o valor no mercado a ponto de ser comprado por alguém maior. Percebam que uma oferta de compra é na verdade, uma honra, pois assim sabidamente o mercado está te enxergando positivamente.
Mas como os provedores no mercado de Telecom devem estar prontos para esses novos desafios e novas oportunidades? Primeiramente eles têm que entender que o mercado está em constante movimentação, como vimos. E, para que estejam atraentes no mercado, devem seguir com seu crescimento, legalização e organização. Além disso, ter um planejamento estratégico adequado e se posicionar corretamente em relação aos preços praticados, para que haja uma concorrência adequada com players mais capitalizados.
Concluindo, nesse mercado de canhões e violinos da atualidade temos ótimas oportunidades tanto de compra quanto de venda de provedores, caso estejam bem organizados. Além disso, haverá oportunidade de crescimento orgânico, frente a outras operações desorganizadas, sem qualidade e sem posicionamento adequado. O mercado segue aquecido com players capitalizados. O ruído dos canhões evidencia não o caos, mas o momento certo de estar pronto e em guarda para aproveitar bons ventos. E concomitantemente, quando identificarmos sons de violinos acontecendo estejamos com a orquestra afinada, ensaiada e com nossos Stradivarius prontos para uma concorrência acirrada com o mercado aquecido.
Autor: Droander Martins. Investidor, consultor, mentor e palestrante, atua como conselheiro estratégico e é CEO da Vispe Capital e IPv7 Soluções Inteligentes, autor do livro INTANGÍVEL.